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Quando se trata de diferentes culturas, tradição é um dos aspectos mais curiosos e interessantes, justamente porque faz muito sentido para um povo enquanto para outro causa certa estranheza. E tradições ocupam um grande espaço na vida dos tailandeses. Muitas vezes, por conta dessas crenças, uma mesma situação gera diferentes manifestações. Uma delas envolve a seguinte pergunta: “O que a placenta de uma mãe representa, depois dela dar à luz?”
Atualmente no Brasil há uma discussão – um tanto polêmica - sobre comer a placenta depois do parto, por conta de possíveis benefícios nutricionais, mas não há grandes superstições ou costumes ao redor desse assunto.
Já na Tailândia, país de fortes costumes enraizados no budismo, a tradição sobre a placenta exige um esforço a mais por parte das famílias. Como é comum entre aos rituais e costumes budistas, o principal objetivo é garantir a boa sorte e eliminar más energias. Durante a gestação não há nenhuma regra cultural. Porém, após o parto, acredita-se que a placenta inicialmente deva ser tratada com sal, para garantir sua preservação, depois colocada dentro de um frasco de barro e enterrada: é aí que as coisas se tornam mais complicadas.
Primeiramente, a direção para a qual o frasco deve apontar quando enterrado depende do mês do nascimento do filho: janeiro, fevereiro e março correspondem ao sul ou sudoeste; abril a junho ao norte; julho a setembro ao norte ou noroeste; outubro a dezembro ao sul ou nordeste.
Ainda mais complicadas são as regras botânicas. Ao redor de onde o frasco de barro foi enterrado deve haver árvores de determinadas espécies, de acordo com o ano de nascimento da criança seguindo o Zodíaco Chinês, ou o Ciclo de Vida Asiático. Para quem não está familiarizado, esse Zodíaco relaciona o calendário chinês ao seu ciclo animal de 12 anos. Ele funciona como um sistema de previsão do futuro e determinação de traços de personalidade. Para exemplificar, lótus e pé de jaca são os guardiões do tigre e do cachorro (nascimentos nos anos 3 e 11 do ciclo chinês, respectivamente), enquanto que coqueiros protegem os anos do rato, coelho e dragão (1, 4 e 5). Ou seja, além de guardar a placenta, secá-la, enterrá-la num frasco de barro – cuidadosamente posicionado -, é preciso garantir que os arredores tenham a vegetação correta.
Há um outro grupo étnico na Tailândia que possui uma crença diferente. Esse povo é o Hmong, que também ocupa regiões da China, Vietnã e Laos. Na língua deles, placenta é traduzida como “casaco”. Eles acreditam que essa é a primeira roupa do bebê e que, após a morte, a alma retorna à sua terra natal - onde a placenta foi enterrada -, veste novamente seu “casaco” e inicia sua viagem rumo ao céu, ou rumo à reencarnação.
Se for uma menina, a placenta fica embaixo da cama dos pais; mas no caso de um filho, ela ganha um local de honra e é enterrada sob o pilar principal da casa, como símbolo de liderança espiritual e força - isso se explica no fato de que esse povo constitui uma sociedade patrilinear, ou seja, a descendência é contada em linha paterna e o pai é o responsável por todas as decisões da família.
Crenças às vezes parecem esquisitas para quem as vê de fora, mas o que faz um trevo de quatro folhas ser símbolo de boa sorte ou um gato preto ser sinal azar é simplesmente nossa crença: o que faz uma tradição presente é o fato de acreditarmos que ela existe. E você – que fim (ou recomeço) dará a sua placenta?